habito dentro da pele dum deserto a prumo está um brilho fresco
de estalar a língua
os dedos sobem numa convulsão entrançada à poeira em erro
as pedras a salivarem contra a minha boca cantam
cantam as pedras em sofrimento casto e cantam
cantam como a escorregar garganta acima!
as dunas e cavernas deste deserto prendem-se no sol gestual
sol de ossos canibais:
– é um deserto que dança falésia abaixo
– é um deserto que molda as máscaras
– é um deserto que se estende para me devolver
todo o meu silêncio infinito
e toda a sua carne a parir numa desfeita noite aperta-me as mãos
que estão em choque no vento da cabeça
e a cabeça cai pela pele do deserto a cabeça quer regressar
às areias movediças ao mesmo tempo que se dobra nas horas
intermináveis ainda por estrangular todo o sangue
e a lisura do sangue transforma-se agora em cactos
– iluminando todo o lume noctívago
filipe marinheiro
noutros rostos
chiado editora
2014