Do outono que termina
nenhuma coisa é perto.
Cada uma culmina
em tudo ser aberto
e claro movimento
sem uma qualquer história.
Que ser no pensamento
é obra sem memória.
Ou, se memória fosse,
da longa caminhada
guardaria o que trouxe
- a paz de ser pensada
e uma mágoa doce
de outono e de mais nada.
Aonde formos iremos
pensando esta luz que passa.
Esta luz que, agora, vemos
molhada além da vidraça
mas que, pensada, ilumina
outro rio e outra rua
e muda mesmo à retina
o modo de se ver sua.
Sem que, por isso, no rio
mude, ou na rua, o passar.
Tudo segue o mesmo fio
em retina igual. Só o ar
tem um contorno mais frio
na margem de ver passar.
fernando echevarría
introdução à filosofia
edições nova renascença, porto
1981