Beleza quotidiana - amor tranquilo -,
que bela és tu agora!
Sim, vives em tudo! Arbusto que foi
esqueleto sem luz, hoje é só rosas;
vereda que ias, tal como o coveiro
ao cemitério, pela vala rubra e sórdida
de cães mortos e pútridas amêijoas;
como vens até mim,
clara, saltando
como um menino! Água muda e verde
de minhas mágoas, hoje límpida e sonora
de alegria, - que rodas de ouro e prata
dás à minha ventura misteriosa?
Partirei - aurora bela e triste -
para mais plenitudes. Todavia
minha vida passada será coluna em brasa
- como a palmeira de Moguer
sobre o poente glorioso -
certo, no melhor, que tu estavas,
que podes estar,
como Deus, sendo eu menino, esteve em cada coisa!
juan ramón jiménez
1881-1958
antologia da poesia espanhola
contemporânea
tradução de josé bento
poemário, 21.02.2001
assírio & alvim