Mostrar mensagens com a etiqueta juan ramón jiménez. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta juan ramón jiménez. Mostrar todas as mensagens

12 setembro 2021

juan ramón jimenez / eu não voltarei

 
4
 
Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
 
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.
 
Ignoro se alguém me aguarda
de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.
 
Mas haverá estrelas, flores
e suspiros e esperanças,
e amor nas alamedas,
sob a sombra das ramagens.
 
E tocará esse piano
como nesta noite plácida,
não havendo quem o escute,
a pensar, nesta varanda.
 
 
 
juan ramón jimenez
antologia poética
tradução de josé bento
relógio d’ água
1992







06 dezembro 2014

juan ramón jiménez / beleza quotidiana



Beleza quotidiana - amor tranquilo -,
que bela és tu agora!
Sim, vives em tudo! Arbusto que foi
esqueleto sem luz, hoje é só rosas;
vereda que ias, tal como o coveiro
ao cemitério, pela vala rubra e sórdida
de cães mortos e pútridas amêijoas;
como vens até mim,
clara, saltando
como um menino! Água muda e verde
de minhas mágoas, hoje límpida e sonora
de alegria, - que rodas de ouro e prata
dás à minha ventura misteriosa?
Partirei - aurora bela e triste -
para mais plenitudes. Todavia
minha vida passada será coluna em brasa
- como a palmeira de Moguer
sobre o poente glorioso -
certo, no melhor, que tu estavas,
que podes estar,
como Deus, sendo eu menino, esteve em cada coisa!



juan ramón jiménez
1881-1958
antologia da poesia espanhola contemporânea
tradução de josé bento
poemário, 21.02.2001
assírio & alvim





29 novembro 2012

juan ramón jiménez / universo




Teu corpo: ciúmes do céu.
Minhalma: ciúmes do mar.
(Pensa minhalma outro céu.
Teu corpo sonha outro mar.)



 juan ramón jimenéz



20 abril 2011

juan ramón jiménez / viagem derradeira

.

.
.

…E partirei. E ficarão os pássaros
cantando;
e ficará o meu quintal, com a sua árvore verde
mais o seu poço branco.

O céu, todas as tardes estará azul e calmo;
e tocarão, como esta tarde estão tocando
os sinos do campanário.

Irão morrendo aqueles que me amaram;
e a cada ano se fará novo o meu povoado;
e no tal recanto do meu quintal florido e calado
o  meu espírito vagueará, nostálgico…

Eu partirei; e ficarei só, sem lar, sem a árvore
verde, sem o poço branco
sem o céu azul e calmo…

E ficarão os pássaros cantando.





juan ramón jiménez
poemas agrestes
1911
tradução de nicolau saião
.
.
.
.