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11 março 2024

ângelo de lima / dizem os sábios

 



 
1

Dizem os sábios que já nada ignoram
Que alma, é um mito!...
Eles que há muito, em vão, dos céus exploram
O almo infinito…
Eles, que nunca achavam no ente humano
Mais que esta face
De ser finito, orgânico, o gusano
Que morre e nasce,
Fundam-se na razão.
                                      E a razão erra!...
 
Quem da lagarta a rastejar na terra
Pode supor,
Sonhar sequer, que um dia há-de nascer
A borboleta, aquela alada flor
Matiz dos céus?
Sábios, achai em vão o pode ser
Saber… só Deus.
 
O homem rasteja, semelhante ao verme
por que não há-de a paz da sepultura
– Quando labor sob a aparente calma!
Servir d’abrigo àquele ser inerme,
De que há-de um dia após tarefa oscura
Surgir vivaz, alada e flor, a Alma.
 
 
 
ângelo de lima
poesias completas
assírio & alvim
2003




11 julho 2021

ângelo de lima / não tinha

 
 
15.
 
                                    Fria fria
                                    Como o meu Amor Primeiro
 
                                    E. de V.

 
 

Não tinha esse perfume, dos Narcisos!...
Nem o calor fervente dos Abraços!...
 
Aquela, a quem um dia abri os braços…
– Que me encantava a alma de sorrisos!...
 
– Vi seus olhos, então!... – os lagos lisos
Não são mais cristalinos… nem mais frios!...
 
– Pobres Almas de Moços… – Balbucios
E Inocentes! – e Ínscios!... – E Indecisos!...
 



ângelo de lima
poesias completas
assírio & alvim
2003





15 setembro 2019

ângelo de lima / súplica



Para alguém, foi, do teu olhar a flama,
Como, após noite escura, a luz d´aurora.

Da «selva escura» entre a sombria trama,
Ouve, mulher, como esse alguém t´implora.

Oh, baixa sobre mim o olhar fulgente!...

Que o teu olhar é bálsamo que inora,
Do céu sobre esse seio, em que, latente,

Remorde, há muito, o cancro de um anseio,
De um desejo insensato e sede ardente

De um não sei quê, que em teu olhar eu leio.


ângelo de lima
poesias completas
assírio & alvim
2003






07 agosto 2014

ângelo de lima / olhos de lobas



Teus olhos lembram círios
Acesos n'um cemitério...
Dr. Rogério de Barros

Têm um fulgor estranho singular
Os teus olhos febris... Incendiados!...

Como os Clarões Finais... - Exaustinados
Dos restos dos archotes, desdeixados...
- Nas criptas d'um Jazigo Tumular!...

- Como a Luz que na Noute Misteriosa
- Fantástica - Fulgisse nas Ogivas
Das Janelas de Estranho Mausoléu!...

- Mausoléu, das Saudades do Ideal!...

- Oh Saudades... Oh Luz Transcendental!
- Oh memórias saudosas do Ido ao Céu!...

- Oh Pérpetuas Febris!... - Oh Sempre Vivas!...
- Oh Luz do Olhar das Lobas Amorosas!...


ângelo de lima
poesias completas
editorial inova
1971


04 dezembro 2012

ângelo de lima / eu ontem vi-te...


  
Eu ontem vi-te...
Andava a luz
Do teu olhar,
Que me seduz
A divagar
Em torno a mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo, amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse,
Fulgor assim.



ângelo de lima
poesias completas
editorial inova
1971