Outros
antes de nós tentaram o mesmo esforço: dente por dente:
não, nunca olhar de
soslaio e manter a cabeça escarlate, o vómito nos
pulsos por cada
noite roubada; nem um minuto para a glória da pele.
Despertar de lado:
olho por olho: conservar a família em respeito, a
esperança à
distância de todas as fomes, o corno de cada dia nos
intestinos.
Aos dezoito anos,
aos vinte e oito, a vida posta à prova da raiva e do
amor,
os olhos postos à
prova do nojo. Entrar de costas no festival das letras,
abrir passagens a
golpes de fígado para a saída do escarro. Se não
temos saúde bastante
sejamos pelo menos doentes exemplares.
Fora do
meu reino toda a pobreza, toda a ascese que gane aos
artelhos dos que rangem
os dentes; no meu reino apenas palavras
provisórias, ódio
breve e escarlate. Nem um gesto de paciência: o sonho
ao nível de todos os
perigos. Pelo meu relógio são horas de matar, de
chamar o amor para a
mesa dos sanguinários.
Dente por dente: a boca no coração do sangue:
escolher a tempo a nossa
morte e amá-la.
antónio josé forte
40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola
implacável e outros poemas
lisboa
1958