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01 janeiro 2024

vasco gato / janeiro




 

é esta a completude dos dias
quando se reúnem sobre a cidade
os sossegos da nossa idade já meiga.
são estas as palavras que ficam
desde o interior do nosso mais antigo nome.
 
é o inverno aberto de janeiro
com as árvores despidas e o frio azul,
é o ano que começa no tempo que é nada,
os bolsos que se enchem de mãos,
as casas que parecem mais juntas.
 
por esta altura estarão a nascer
as horas mais felizes das nossas vidas
– bebemos chá escutando o lume
e amanhã será um dia a menos,
um outro som acrescentado à voz,
um abraço fechando-se até ao amor.
 
 
 
vasco gato
um mover de mão
assírio & alvim
2000




 

13 fevereiro 2020

vasco gato / esta música, ouves?


Esta música, ouves?

sabe que
quando nos separamos

– tu seguras uma ponta,
Eu seguro outra –

as coisas do mundo
tocam o cordel
da nossa distância.



vasco gato
um passo sobre a terra
língua morta
2018







09 julho 2019

vasco gato / ser então impossível



Ser então impossível
desirmanar a luz
das coisas amadas,

justamente
porque tombadas
em concreta adoração,

e nunca um destroço
foi tão necessário
como existir.

  

vasco gato
um passo sobre a terra
língua morta
2018






27 setembro 2018

vasco gato / o carro suspenso na chuva




O carro suspenso na chuva
Todo o ar por nossa conta
– chegará? –
inútil o volante
inúteis as frequências da rádio

duas vidas apenas
soldando-se na indiferença
de uma rua completamente marginal


vasco gato
um passo sobre a terra
língua morta
2018












16 janeiro 2017

vasco gato / um no outro



imensamente nos deitamos um no outro
e não mais nascemos para a mão escura
que tapa o sol e afoga a luz

estamos como se tudo estivesse connosco
e connosco estivessem os nomes que primeiro se deram
flor   rio   azul   estrela   terra



vasco gato
um mover de mão
assírio & alvim
2000




15 janeiro 2016

vasco gato / depois do frio, ainda


três.

ela traz na mão direita as ondas que o mar não quis:
enterra-as nos meus poemas, diz-me que assim
eu posso lembrar a mão que ficou na areia, pequena.

o deserto procura-nos. há um caminho que é só morte.

ela fica junto de mim, mil lágrimas e os meus olhos
começarão a ver, ela diz-me que vai ser assim.



vasco gato
um mover de mão
assírio & alvim
2000




20 fevereiro 2015

vasco gato / segredo



segreda-me a canção dos dias
sem que nos ouça a noite terrível
e deixa que dance em mim a voz,
a voz azul que é o lugar onde
o mundo não pára de nascer.

segreda-me o teu nome, agora,
e farei de nós o amor, a constelação,
o sonho de uma estação sem morte.

  

vasco gato
um mover de mão
assírio & alvim
2000



25 outubro 2012

vasco gato / um dizer ainda puro


  

imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonamos a flor.


dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.


diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.




vasco gato
um mover de mão
assírio & alvim
2000