Telefona-me
à meia-noite.
Escuto o
lamber do vento
através do
telefone, como um cachorro ansioso,
e a sua voz
transparente na cabina.
Há em frente
─ diz-me ─
um armazém
de chapa
com forma de
garrafa,
um terreno
com escombros
branqueados
de gesso,
umas casas
cúbicas como dados sem uso
e três ou
quatro pinheiros calcinados
da cor do
remorso.
Estas poucas
imagens
fixam-me à
sua ausência
como devem
fixá-lo ao facto de estar só.
No meu
quarto de livros clareados
pela luz de
moeda da lua,
provoca uma
pontada:
─ Estou atrás de ti ─ diz-me ─
e em redor
de tudo isto.
luis muñoz
poesia espanhola, anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000
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