Toda a manhã, eu sentada a pensar em ti,
as Monarcas têm passado. Sete andares acima,
à esquerda do rio, dirigem-se para
sul, as suas asas vermelho-escuras como
as tuas mãos de talhante, as veias
estampadas das suas asas como as tuas cicatrizes.
Mal conseguia sentir as tuas palmas rudes enormes
sobre mim, tão leve era o teu toque,
algo delicado, gretado, que arranhava tal pata de insecto
sobre o meu peito. Nunca ninguém
me tocara antes. Nem sequer sabia
abrir as pernas, mas senti as tuas coxas,
com uma penugem de ouro rubro,
abrindo-se
entre as minhas pernas como um
par de asas.
A impressão do meu sangue em cavilha sobre as tuas coxas –
uma criatura alada presa ali por alfinetes –
e depois partiste, como havias de partir
uma e outra vez, as borboletas deslocando-se
imensas pela minha janela, flutuando
para sul para se transformarem, atravessando
fronteiras pela noite, a sua nuvem difusa
vermelhas de sangue, o meu corpo sob o teu,
a beleza e o silêncio das grandes migrações.
sharon olds
satanás diz
trad, margarida vale de gato
antígona
2004