«Devagar, italiano, devagar com essa barca,
estes canais devem ser vistos devagar, assim
disseram por toda a parte os que de
veneza se lembravam. O Doge recuou com
as suas tropas face a esta dura revolução.
Não, amigo, não está nos meus hábitos
ser sóbrio, seja no que for. Falo muito,
mais do que me aconselharam os que
de veneza se lembravam. Devagar, pois,
devagar sob esta ponte onde Desdémona
sofreu a crina fria dos seus desgostos,
e afogou esse focinho ardente e irrequieto
do puro sangue árabe. Nela, tudo confluía
num duro rio de loucura, um frio
rio no qual vogava já a pétala de
de um vestido. Isso, italiano, faz deslizar o
esguio corpo da gôndola sobre o cume
das águas, assim mesmo, nem profundas
nem temerosas, as águas, apenas para o
amor propícias quanto mortais, exactamente
assim, como mo disseram os que
por toda a parte de veneza se ausentavam.
Devagar, italiano, mais devagar, que por toda
a parte se acendem já as luzes de Veneza.»
rui diniz
ossos de
sépia
noemas
língua morta
2022