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25 agosto 2022

rui nunes / podava a macieira

 
 
podava a macieira. Entre folhas, a tesoura
cortava o ar: e o ar caía, arrastando os troncos.
As horas mediam uma recordação imprecisa:
ao campo de neve o sangue coalhara e a manhã
prolongava a morte até à rigidez
de um gesto interrompido:
a mão só alcançara o branco
e no branco adquirira
o sarcasmo de um molde
 
 
 
rui nunes
ofício de vésperas
relógio d’ água
2007




15 fevereiro 2022

rui nunes / somos os que a morte reconduz

 
 
somos os que a morte reconduz
à rapidez das lágrimas, ao ritmo brutal
de uma festa que nada antecedeu:
hiato que a mão utilizou para guiar
a dor pelo trilho da suspeita; somos
os que a morte reconhece como a sua memória,
um rasto que procura a presa e a encontra
no homem que se embrenha por caminhos
dissimulado no seu próprio esquecimento
 
 
 
rui nunes
ofício de vésperas
relógio d’ água
2007




 

14 setembro 2021

rui nunes / és só um homem esquecido pela terra

 
 
és só um homem esquecido pela terra,
os que te cercam não te reconhecem,
nada sabem das tuas mãos, dos teus olhos,
da coisa mais ínfima que seja tua.
Tu vês os que te cercam, mas eles
Rodeiam-te da tua ausência
com a perseverança de sobreviventes
 
 
do mundo aos lábios: a separação
do olhar de Deus
 
 
 
rui nunes
ofício de vésperas
relógio d’ água
2007