A mulher canta o azul – que tinge
as suas pálpebras – daquele jeito açucarado
de ser toda ela cor e violência num vestido de noite.
Mas antes, antes do canto, a película
confunde-se com a descoberta de um fragmento
do corpo, a orelha. O labirinto fílmico começa assim.
Não, não começa assim. Antes vemos o aconchego
doméstico, a relva, a água, a lama e os acasos da morte.
Preâmbulo para o que teremos de procurar.
…blue velvet…
De como o escaravelho, a substância
sôfrega e centenar do bicho côncavo, fundo,
interno à relva cuidada do jardim, vive, matéria
obscura cheia de patas.
elisabete marques
voo rasante
mariposa azual
2015