16 fevereiro 2022

georges bessière / eterna

 
 
     Tenho sede de linhas imortais: pois quero que o sol assassino me encontre forte e musculado. Preciso de apresentar às próximas auroras cabelos e olhos onde foi destilado o clarão das luas a envelhecer. Ó folhas mortas, ó folhas amarelas, ó vidas dessas folhas voando e pousando, e arrastando-se, encetai a sinfonia das minhas noites feiticeiras, sem receio, sem receio; eu não sou um mensageiro visto que o meu coração mora no vosso seio, encarquilhado, caído de suas artérias, visto que vai da senda ao regato, do regato às clareiras, pobre bloco seco de pergaminho, onde ficou gravada esta dor vespertina uivada pelas vossas raivas às nuvens hipnóticas de outono…
 
 
 
georges bessière
sonhador definitivo e perpétua insónia
uma antologia de poemas
surrealistas escritos em língua francesa
trad. regina guimarães
contracapa
2021




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