Tenho
sede de linhas imortais: pois quero que o sol assassino me encontre forte e
musculado. Preciso de apresentar às próximas auroras cabelos e olhos onde foi
destilado o clarão das luas a envelhecer. Ó folhas mortas, ó folhas amarelas, ó
vidas dessas folhas voando e pousando, e arrastando-se, encetai a sinfonia das
minhas noites feiticeiras, sem receio, sem receio; eu não sou um mensageiro
visto que o meu coração mora no vosso seio, encarquilhado, caído de suas
artérias, visto que vai da senda ao regato, do regato às clareiras, pobre bloco
seco de pergaminho, onde ficou gravada esta dor vespertina uivada pelas vossas
raivas às nuvens hipnóticas de outono…
georges
bessière
sonhador definitivo e perpétua
insónia
uma antologia de poemas
surrealistas escritos em língua
francesa
trad. regina guimarães
contracapa
2021