21 fevereiro 2022

rui costa / talvez um poema de amor

 
 
Eu vou na estrada aberta agora
como tu antes da vida.
Desconheço a razão da tua boca
e o declive ascensional da morte.
Visito os amigos, não durmo no mar,
há sombras e pão em nossa casa e
a cal da noite entrando pelo sono, a nossa
casa. Sim,
tenho um tanque cheio de memória
ao fundo de abril e não te posso
dar (porque não sei).
Talvez por isso te converta
nestes versos miudinhos que
se enganam na terra donde vens.
Mas nem todo o ar começa
por um «eu» no princípio do poema.
Os campos são silenciosos quando à noite
invadem as janelas
e a maçã branca nos indica o caminho
para nunca mais.
 
Quero este amor
como a algo subitamente possível
e impossível
Uma cidade ardendo sobre o mar
As palavras separando com as mãos
na tua loucura
 
 
rui costa
«se uma estrela me falha, agarro numas nuvens»
mike tyson para principiantes
antologia poética
assírio & alvim
2017




 

1 comentário:

spumpkin disse...

a minha pequena homenagem a esse genial poeta Rui COsta

https://www.youtube.com/watch?v=w8KkQOVGZAQ