No eclodir do outono estou de pé.
No eclodir do outono
– iludir-me-ei, talvez? –
as folhas, estas ciganas
felizes,
prepararam a festa do
levantar do acampamento.
Em todas as asas do vento
as árvores ergueram
chafarizes
de fogos-de-artifício.
E na algazarra, prenhe de silêncio,
a alegre fénix das cores e
perfumes,
sobre a frieza e as
cinzas da aragem
eriça sua plumagem.
«Voltarei»
sussurra.
A sua volta
é segura.
E contra a morte
a folha
se mostra mais forte.
No eclodir do outono estou de pé.
Meus olhos cheiram
Tantas cores verdadeiras
No limiar do perecer e do não-ser
E no meio dos aromas do murchar e do carinho.
O que perece na cor resplende
Até onde meu olhar se estende.
E do perfume a cor eu vejo
no perfume da cor.
Tão leve estou
Que meu Eu à luz e às moscas se parece.
E a suave carícia do ar,
No ciciar da seda do vento nocturno
Pesa, soturno,
sobre as asas da pomba do
meu Eu.
E assim
sou eu,
Que, se soubessem
Os sábios, os mártires, os
santos e Deus,
Saberiam,
Que,
Se é preciso ser,
Assim se precisa ser.
No eclodir do outono
cantarei
Esta certeza mais límpida que o sol:
A morte é apenas um sono.
[…]
E não é a folha
que cai.
É a morte que sai
em
debandada.
E assim a tristeza mais alegre se faz
que, em meu ânimo e sangue.
caia uma chuva de
estrelas.
E sou eu, de quem o verso se agrada.
essma’il kho’i
trad. kurt scharf
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001