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13 julho 2023

a. c. swinburne / solidão

 
 
Mar e depois o mar, areia e depois a vastidão de areia,
     Aqui marfim suave, ali fendido e sulcado pelas águas
     Que através de sulcos escorrem suavemente como chuva ou
                                                                                    neve,
Alongando-se solitárias e tranquilas sob o doce
Brilho cinzento dos céus cujo sorriso nas ondas e na praia
     Refulge como o de um homem que sorri por saber
     Que nenhum sonho pode escarnecer da sua fé,
Nem as nuvens se parecerem ao mar ou à terra vivos.
Há um limite para toda esta desolação,
Para estas falésias desfiguradas e mutiladas,
Para estas eminências arruinadas de muralhas minadas pelo
                                                             mar que deslizam
     Para o mar com todos os seus taludes de flores batidas pelo
                                                                                  vento,
Mas felizes por viver, antes que a esperança se aquiete
     Sob o tumulto das sombrias e densas ondas e horas?
 
 
 
a. c. swinburne
poemas
tradução de maria lourdes guimarães
relógio d’ água
2006
 



25 fevereiro 2023

a. c. swinburne / encontro



 
Se o amor fosse o que é a rosa,
     E eu fosse como uma folha,
As nossas vidas cresceriam juntas
No tempo sombrio ou no tempo de uma canção,
Nos campos ventosos ou nos cercados floridos,
     No prazer verde ou na dor sombria.
Se o amor fosse o que é a rosa
     E eu fosse como uma folha.
 
Se eu fosse o que são as palavras
     E o amor fosse como uma melodia
Com um duplo som e um único
Deleite confundir-se-iam os nossos lábios
Com alegres beijos como são os pássaros
     Que procuram a suave chuva do meio-dia.
Se eu fosse o que são as palavras
     E o amor fosse como uma melodia.
 
Se tu fosses a vida, meu amor,
     E eu, o teu amor, fosse a morte,
Brilharíamos e apagar-nos-íamos juntos
Antes de Março amenizar o tempo
Com o junquilho e o estorninho
     E o fecundo alento das horas.
Se tu fosses a vida, meu amor,
     E eu, o teu amor, fosse a morte.
 
Se tu fosses serva da dor
     E eu fosse o pajem da alegria,
Brincaríamos durante a vida e as estações
Com olhares amorosos e pérfidos,
Com lágrimas da noite e da manhã
     E os risos de donzela e adolescente.
Se fosses serva da dor
     E eu fosse o pajem da alegria.
 
Se tu fosses a dama de Abril
     E eu fosse senhor em Maio,
Arremessaríamos flores durante horas
E colheríamos flores durante dias
Até que o dia fosse sombrio como a noite
     E a noite como o dia fosse luminosa.
Se tu fosses dama de Abril
     E eu fosse senhor em Maio.
 
Se tu fosses a rainha do prazer
     E eu fosse o rei da dor,
Perseguiríamos juntos o amor,
Arrancaríamos as suas penas para voar
E daríamos ritmo aos seus pés
     E refrearíamos a sua boca.
Se tu fosses a rainha do prazer
     E eu fosse o rei da dor.
 
 
 
a. c. swinburne
poemas
tradução de maria Lourdes Guimarães
relógio d’ água
2006
 


 


16 março 2022

a. c. swinburne / rosamunda

 
 
O medo é uma almofada sob os pés do amor,
Com cores que são para ele tranquilas;
Vermelho suave e branco tingido de sangue, azul
De flores, verde que se une ao estio,
Doce púrpura prometido ao mar e um negro calcinado.
Todas as formas coloridas do medo, presságio e mudança,
Uma triste profecia seguida de incertos rumores,
Premonições, astrologias e perigosas
Inscrições, o que a memória nos recorda,
Tudo fica encoberto pelo manto do amor,
E, quando ele o sacode, tudo será derrubado,
Agitado e levado no rosto poeirento do ar.
 
 
 
a. c. swinburne
poemas
tradução de maria Lourdes Guimarães
relógio d’ água
2006
 



11 setembro 2021

a. c. swinburne / tivesse eu sabido

 
 
 
Tivesse eu sabido, quando a vida era como um vento tépido e
                                                                                  feliz,
Brando e ruidoso na aurora e na névoa brilhante do orvalho,
Que havia de chegar o tempo em que, suspirando, os corações
                                                                                diriam:
          «Tivesse eu sabido…»
 
Nem sequer as rosas rindo ao beijarem-se,
Nem, ao sol, o mais encantador riso ondulante do mar,
Teriam vindo fascinar a minha alma para que neles reparasse.
 
Agora o vento é como uma alma desterrada a rezar inutilmente
As preces que não conseguimos ouvir se o coração lhes resiste,
Agora que a minha própria alma, à deriva e perdida como o vento,
                                                                                     suspira:
          «Tivesse eu sabido.»
 
 
 
a. c. swinburne
poemas
tradução de maria Lourdes Guimarães
relógio d’ água
2006