I
(e
vou-me embora com ar de borboleta triste,
depois
da chuva, e volto mais tarde de peito
cheio
de rosas.)
E olho para o espelho e faço a barba e coloco em
cima do bordo do lava-loiça um pouco do cansaço e abro o peito à noite e tu
passas de uma sala para a outra e mostras, em certos gestos, que te vais
deitar, e arranco ao fechar de porta da cozinha um pouco da dor às costas, e
estou feito cerimónia como um braço aberto que te tape a barriga e acabe
enterrado no calor das nádegas, e vou buscar um copo de água, e arranco ao
descer da persiana uma dentada no tempo, e chamo sobre nós a calma do céu, e
deito-me ao teu lado também desta vez é de noite é de poucas horas é tão longa.
manuel cintra
do lado de dentro
editorial presença
1981