uma grande luz branca amanhece sobre o
continente
enquanto adulamos as nossas tradições falhadas,
muitas vezes matamos para as preservar
ou às vezes matamos só por matar.
parece não ter importância: as respostas balouçam
fora do alcance,
fora de mão, fora da mente.
os líderes do passado eram insuficientes,
os líderes do presente não estão preparados.
enroscamo-nos nas nossas camas à noite e esperamos.
é uma espera sem esperança, uma
oração pedindo graças imerecidas.
tudo se parece cada vez mais com o mesmo velho
filme.
os actores são diferentes mas o enredo é o mesmo:
absurdo.
devíamos ter aprendido ao observar os nossos pais.
devíamos ter aprendido ao observar as nossas mães.
eles não sabiam, eles próprios não estavam
preparados
para ensinar.
éramos demasiado ingénuos para ignorar os seus
conselhos
e agora adoptámos a sua
ignorância como
nossa.
somos eles, multiplicados.
somos as suas vidas não saldadas.
estamos falidos
de dinheiro e
de espírito.
há algumas excepções, claro,
mas estas oscilam
sobre o precipício
e a qualquer momento
cairão para se juntar
a nós,
os delirantes, os derrotados, os cegos e os tristemente
corruptos.
uma grande luz branca amanhece sobre o
continente.
as flores abrem-se cegamente no vento fétido,
enquanto o nosso século XXI,
grotesco e em última instância
inabitável,
se esforça por
nascer.
charles bukowsky
os cães ladram facas
trad. rosalina marshall
alfaguara
2018