Primeira Carta I
Pois que toda a literatura é uma longa carta a um interlocutor
invisível, presente, possível ou futura paixão que liquidamos, alimentamos ou
procuramos. E já foi dito que não interessa tanto o objecto, apenas pretexto,
mas antes a paixão; e eu acrescento que não interessa tanto a paixão, apenas
pretexto, mas antes o seu exercício.
Não será portanto necessário perguntarmo-nos se o
que nos junta é paixão comum de exercícios diferentes, ou exercício comum de
paixões diferentes. Porque só nos perguntaremos então qual o modo do nosso
exercício, se nostalgia, se vingança. Sim, sem dúvida que nostalgia é também
uma forma de vingança, e vingança uma forma de nostalgia; em ambos os casos
procuramos o que não nos faria recuar; o que não nos faria destruir. Mas não
deixa a paixão de ser a força e o exercício do seu sentido.
Só de nostalgias faremos uma irmandade e um
convento, Soror Mariana das cinco cartas. Só de vinganças, faremos um Outubro,
um Maio, e novo mês para cobrir o calendário. E de nós, o que faremos?
1/3/71
maria isabel
barreno, maria teresa horta e
maria velho
da costa
novas cartas
portuguesas
futura
1974