02 agosto 2021

allen ginsberg / nas traseiras do real

 
 
parque de locomotivas em San Jose
                desconsolado eu deambulava
frente a uma fábrica de tanques
                e sentei-me num banco
junto à baiuca do agulheiro.
 
Uma flor jazia no feno sobre
a estrada asfaltada
– a assombrosa flor do feno
                pensei eu – tinha um
negro caule crestado e uma
                corola de espinhos sujos
amarelados como polegadas
                da coroa de Jesus e um tufo
de algodão seco e manchado
                no meio tal pincel de barba
usado que jazesse soterrado
                há um ano na garagem.
 
Amarela flor, amarela e
                flor da indústria,
dura flor aguçada e feia,
                e ainda assim flor,
com a forma da grande Rosa
                amarelo dentro da cabeça!
É esta a flor do Mundo.
 
 
San Jose, 1954
 
 
 
allen ginsberg
uivo e outros poemas
trad. margarida vale de gato
relógio d’ água
2014





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