Aguardo a tua vinda!
E, embora me entristeça
Enquanto aguarde,
É tão linda a promessa
Que chego a desejar que venhas tarde!
armando pinheiro
espelho
editorial inova
1978
Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio da ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida rompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.
daniel faria
poesia
quasi
2003
hélène monette
poemas
tradução de rosa alice branco
«Medo dos saltos de humor do amor e humores dos saltos de cabrito da raiva. Tampa colocada no azul que se desprende das algas que cobrem o vestido engomado com ricos pedaços de carne despertada pela presença dos charcos de pus da mulher que subitamente apareceu estendida no meu leito. Gargarejo do metal fundido dos seus cabelos gritando de dor toda a sua alegria pela posse. Jogo de azar dos cristais mergulhados na manteiga derretida dos seus gestos equívocos. A carta que segue passo a passo a palavra inscrita no calendário lunar dos seus envelopes presos a espinhos faz estalar o ovo cheio de ódio e as línguas de fogo da sua vontade cavada na palidez do lírio no ponto exacto onde o limão exasperado desfalece. Duplo jogo das pedrinhas tingidas com o vermelho da cercadura do seu manto, a goma arábica que lhe goteja da calma atitude rompe a harmonia do ruído ensurdecedor do silêncio apanhado na armadilha.