Em Ersília, para
estabelecer as relações que governam a vida da cidade, os habitantes estendem
fios entre as esquinas das casas, brancos ou pretos ou cinzentos ou pretos e
brancos, conforme assinalem relações de parentesco, permuta, autoridade,
representação. Quando os fios são tantos que já não se pode passar pelo meio
deles, os habitantes vão-se embora: as casas são desmontadas; só restam os fios
e os suportes dos fios.
Da vertente de um monte,
acampados com as mobílias, os refugiados de Ersília vêem o intricado de fios
estendidos e de postes que se ergue na planície. Isto é ainda a cidade de
Ersília, e eles não são nada.
Reedificam Ersília noutro
lugar. Tecem com os fios uma figura semelhante que desejariam mais complicada e
ao mesmo tempo mais regular que a outra. Depois abandonam-na e levam ainda para
mais longe tanto a si próprios como as suas casas.
Assim viajando no
território de Ersília encontramos as ruínas das cidades abandonadas, sem as
muralhas que não duram, sem as ossadas dos mortos que o vento faz rebolar:
teias de relações intricadas que procuram uma forma.
italo
calvino
as
cidades invisíveis
trad. josé colaço barreiros
teorema
1999
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