(...)
...«uma
solidão mortal»...
Na
taberna podes dizer graças,
brindar
com quem quiseres, qualquer um.
Mas o Anjo anuncia-se e deves isolar-te
para o
receber. Para nós, o Anjo é a noite
que
desceu à pista fulgurante.
Que a
tua solidão paradoxalmente se ilumine toda
e pouco
importe a escuridão feita de milhares de olhos
que te
julgam, temem e esperam que caias;
vais
dançar sobre e dentro de uma solidão deserta,
de
olhos vendados, se possível com as pálpebras agrafadas.
Mas
nada - nem mesmo aplausos ou risos -
pode
impedir-te de dançares para a tua imagem.
És um artista - ai de mim - não podes recusar-te
ao
precípicio monstruoso dos teus olhos.
Narciso
dança?
Sim, ma
sé coisa totalmente alheia à graça sedutora,
ao egoísmo e amor de si próprio.
E sendo
a Morte, em pessoa?
Deves dançar sozinho. Empalidecido, na ânsia
de
agradar à tua imagem:
ou a
tua imagem é quem dança para ti.
(...)
jean genet
o funâmbulo
trad. de aníbal fernandes
hiena editora
1984
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