24 de Novembro de 1994
Foi a minha vez de fazer anos Tenho, de novo. Necessidade de me pôr em
movimento, talvez mudar fisicamente de lugar, desfazer-me de móveis, de
objectos, de roupas – aligeirar o sólido em proveito dos sinais e das imagens
que o texto me trouxer. Afinal, o único lugar do corpo que verdadeiramente se
move. Quando eu nasci, tudo estava relacionado com o espaço e o tempo.
A meio da vida, Vergílio falava do equilíbrio
interior que exigia o absoluto do eu e a pergunta que continua sem
resposta____saber se havia uma ponte do tempo sobre o espaço.
– Gabriela estará alguém à minha espera?
Não sei
«Se a pergunta é de saber», é o que hoje me
respondo. – Vou nessa ponte sobre um burro carregado, o horizonte é vasto, o
mar é interior e a vida, paradoxalmente, não sei se tem duração, ou não. Mas se
a pergunta for de querer, de pujança então digo que paro o burro, deito os
objectos às margens, ao fundo que os guarde, debruço-me na ponte, com o meu
burro livre a meu lado,
Debruço-me sobre os meus membros e patas e vejo as
imagens flutuando, a minha também, finalmente a desaguar no mar.
maria gabriela llansol
inquérito às quatro confidências
relógio d´água
1996