12 abril 2024

federico garcia lorca / gazel do amor imprevisto

 
 
Ninguém compreendia o aroma
da escura magnólia do teu ventre.
Ninguém sabia que martirizava
um colibri de amor entre os teus dentes.
 
Mil potros persas adormeciam
na praça lunar da tua fronte,
enquanto eu enlaçava quatro noites
a tua cintura, hostil à neve.
 
Entre gesso e jasmins, o teu olhar
era um pálido ramo de sementes.
Procurarei, para te dar, no meu peito
As letras de marfim que dizem sempre.
 
Sempre, sempre: jardim desta agonia,
teu corpo fugitivo para sempre,
teu sangue arterial na minha boca,
tua boca já sem luz para esta morte.
 
 
 
federico garcia lorca
poemas
trad. de eugénio de andrade
assírio & alvim
2013





 

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