16 abril 2024

rui diniz / ao poeta nuno júdice

 
 
 
Ó penumbra cálida que num marulho escrituras:
vem do vento já terno da última era
uma linhagem que nenhum viajante itera
– os sábios lendo com melancolia as nuas conjecturas
da despedida e, no entanto, com errática
necromância, voando uma imperfeita pitonisa,
gnose ulissipada pela palidez êxul e fática
da «iniciação» que na mente delida heleboriza:
«para os evos, siderais! Para os evos, siderais!»
 
Foi sem fim, meu amigo, que nos reunimos
sem estrangeiramente cumprirmos os ritos sepulcrais.
Tanto os crisóis da arte – poemas d’aves, d’imos –
como o burburinho amado dos cafés meridionais,
como a ressurreição de uma esplanada suave
onde esculpimos e imaginámos – pura língua e actos –
me guardam a tua memória. A imortal chave
da amizade reabre o mágico reino dos contactos.
 
                                                             XII.85
 
 
rui diniz
ossos de sépia
noemas
língua morta
2022





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