Ora deixai-me dizer
que vejo tudo ao contrário
do que era lícito ver
Ontem encontrei um operário
todo de pernas para o ar
no bolso de um usurário
«Que linda vista para o mar!»
dizia – e dizendo isto
tinha uns olhos a chorar
que eram tal qual os do Cristo
nos bonecos de se orar.
De repente o usurário
vai para o bolso do operário
«Que linda vista para o campo!»
dizia – e dizendo isto
escondia num lenço branco
um dinheirinho
que era a túnica do Cristo
à moda do Minho.
Vai daí veio a polícia
o exército a milícia
com trinta carros de assalto
e um capitão muito alto.
Zás! Zim! Bum! já nada vejo
e até creio que morri.
«Que linda vista para o Tejo!»
– Mas o que é que se passa aqui?
mário cesariny
nobilíssima visão
assírio & alvim
1991