26 abril 2017

juan luís panero / os abandonados da morte



Um, com o punho apoiado no queixo,
outro, com a cabeça enfiada nas mãos,
e o terceiro de olhos postos no vazio,
os três velhos dormitam à roda da mesa
na esplanada de um bar.
Aquecidos pelo café, aguardam, pacientes
ou impacientes, a desconhecida
que os visita em sonhos,
e acaricia as máscaras os seus rostos,
que o suor desenha e borra.
De súbito, o ruído de uma mota
e um casal jovem e enlaçado cruza a estrada,
depois o estrondo, os previsíveis sinais da morte,
que busca juventude e não corpos decrépitos.
Os três velhos entreolham-se e choram o seu abandono.



juan luís panero
antes que chegue a noite
versões de antónio cabrita e teresa noronha
fenda
2000





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