Ela mexe-se, os olhos entreabrem-se. Pergunta:
Quantas noites estão ainda pagas? Dizes: Três.
Ela pergunta:
Nunca amou uma mulher? Dizes que não, nunca.
Ela pergunta: Nunca
desejou uma mulher? Dizes que não, nunca.
Ela pergunta: Nem
uma só vez, por um instante? Dizes que não, nunca.
Ela diz: Nunca?
Nunca? Repetes: Nunca.
Ela sorri, e diz:
É curioso um morto.
E recomeça: E
olhar para uma mulher, nunca olhou para uma mulher? Dizes que não, nunca.
Ela pergunta: Olha
para onde? Tu dizes: Para tudo o resto.
Ela espreguiça-se,
cala-se. Sorri e volta a adormecer.
Voltas ao quarto. Ela
não se mexeu na mancha branca dos lençóis. Olhas para aquela que nunca tinhas
abordado, nunca, nem através das suas semelhantes nem através dela própria.
Olhas para a forma
suspeitada desde há séculos. Desistes.
marguerite duras
textos secretos
a doença da morte
trad. tereza coelho
quetzal
1999
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