É, de facto, precisa uma grande ingenuidade para
acreditar que, no mundo, servirá de alguma coisa clamar e gritar – como se, com
isso, o destino de uma pessoa mudasse. Aceite-se o destino tal como é oferecido
e evitem-se todas as prolixidades. Quando eu, na minha juventude, ia a um
restaurante, também dizia ao empregado: um bom naco, um muito bom naco, do
lombo, não demasiado gordo. Se calhar o empregado mal ouvia o meu apelo, menos
ainda lhe prestava atenção, menos ainda a minha voz conseguia chegar até à
cozinha, mover quem trinchava – e, mesmo que tudo isto acontecesse, talvez não
houvesse nenhum bom naco em todo o assado. Agora já não clamo mais.
s.
kierkegaard
diapsalmata
trad. de bárbara silva, m. jorge de carvalho,
nuno ferro e sara carvalhais
assírio & alvim
2011
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