IV
Um sonho perturba-me com uma
persistência espantosa.
Chama-me de volta
à aldeia do meu avô.
Àquela casa, onde eu nasci
há 40 anos,
em cima da mesa de jantar.
Mas, quando quero entrar nessa casa,
aparece qualquer coisa a impedir-me
tenho este sonho com frequência.
Mas quando vejo as paredes
de madeira e a escuridão da entrada,
sei, mesmo a sonhar,
que não passa de um sonho.
E a minha imensa alegria perde-se
na sombra do esperado despertar.
Às vezes, porém, deixo de sonhar
com a casa e os pinheiros
em torno dessa casa da minha infância.
E tenho saudades.
E espero impaciente
o regresso deste sonho,
onde voltarei a ver-me criança
e a sentir-me feliz de novo,
porque tudo está ainda pela frente
e tudo será ainda possível…
arsenii tarkovskii
o espelho
andrei tarkovsky
1975