Não é pela
minha casa que caminho agora, mas através da imagem que tenho dela. As
distâncias são maiores. Sempre que chego ao fim dos seus corredores sinto-me
cansado. Por isso, ando mais devagar. Por vezes abro uma porta e o que vejo é
apenas aquilo que imagino: um espaço que existe no meu espírito. Tudo nele é
exacto, tranquilo. O ar principia a envolvê-lo como se encontrasse uma espécie
de segredo ou a minha própria indecisão. Detenho-me nesse lugar como se
esperasse por alguém. As paredes são brancas, levemente inclinadas. É assim que
sinto como depressa vem o tempo ao meu encontro, mas nada acontece. Olho com
mais atenção... Ao lado, distingue-se uma mesa vazia. As janelas conservam-se
fechadas. Outrora podia ver a partir daí algumas árvores e escutar o seu rumor.
Talvez conseguisse mesmo suster um pouco a respiração, quando esperava por uma
atmosfera límpida e submissa. Ouvia também o mar, porque ele estava de novo
sujeito às minhas palavras. Dirijo agora os passos para outras salas, aquelas
que ficavam mais longe. Mas sei que todas são iguais. Nada podia perturbar a
disposição que sempre tiveram, o equilíbrio último desta casa. Admito ter
encontrado o seu centro, um lugar que todos julgavam não existir. Está nos meus
olhos.
fernando guimarães