12 julho 2014

fernando guimarães / casa




Não é pela minha casa que caminho agora, mas através da imagem que tenho dela. As distâncias são maiores. Sempre que chego ao fim dos seus corredores sinto-me cansado. Por isso, ando mais devagar. Por vezes abro uma porta e o que vejo é apenas aquilo que imagino: um espaço que existe no meu espírito. Tudo nele é exacto, tranquilo. O ar principia a envolvê-lo como se encontrasse uma espécie de segredo ou a minha própria indecisão. Detenho-me nesse lugar como se esperasse por alguém. As paredes são brancas, levemente inclinadas. É assim que sinto como depressa vem o tempo ao meu encontro, mas nada acontece. Olho com mais atenção... Ao lado, distingue-se uma mesa vazia. As janelas conservam-se fechadas. Outrora podia ver a partir daí algumas árvores e escutar o seu rumor. Talvez conseguisse mesmo suster um pouco a respiração, quando esperava por uma atmosfera límpida e submissa. Ouvia também o mar, porque ele estava de novo sujeito às minhas palavras. Dirijo agora os passos para outras salas, aquelas que ficavam mais longe. Mas sei que todas são iguais. Nada podia perturbar a disposição que sempre tiveram, o equilíbrio último desta casa. Admito ter encontrado o seu centro, um lugar que todos julgavam não existir. Está nos meus olhos.



fernando guimarães 




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