As imagens significam tudo a princípio. São sólidas.
Espaçosas.
Mas os sonhos coagulam, fazem-se forma e desencanto.
Já o céu não há imagem que o fixe. A nuvem vista do
Avião: um vapor que nos tira a vista, O grou, um pássaro,
mais
nada
Até o comunismo, a imagem final, sempre refrescada
Porque lavada com sangue tantas vezes, o dia-a-dia
Paga-lhe um salário modesto, sem brilho, cego de suor,
Escombros os grandes poemas, como corpos muito tempo
amados e
Postos de lado agora, no caminho da espécie exigente e
finita
Nas entrelinhas lamentos
sobre
ossos feliz o carregador de pedra
Porque o belo significa o fim provável dos terrores.
heiner müller
o anjo do desespero
trad. joão barrento
relógio d´ água
1997
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