Ignoravam
que a beleza do homem é maior do que o homem
Viviam para pensar pensavam para se calarem
Viviam para morrer eram inúteis
Ocultavam a sua inocência na morte
Tinham posto em ordem
sob o nome de riqueza
sua miséria bem-amada
Mastigavam flores e sorrisos
Só encontravam um coração na ponta das carabinas
Não percebiam a injúria dos pobres
Dos pobres amanhã sem problemas
Sonhos sem sol tornavam-nos eternos
Mas para que a nuvem de transformasse em lama
Desciam deixavam de fazer frente ao céu
A noite do seu reino a sua morte a sua bela
[sombra miséria
Miséria para
os outros
Esqueceremos
estes inimigos indiferentes
Em breve uma
multidão
Repetirá baixinho
a chama clara
A chama para
nós dois unicamente paciência
Para nós dois
em toda a parte o beijo dos vivos.
paul éluard
algumas das palavras
trad. antónio ramos rosa e luiza neto jorge
publicações dom quixote
1977
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