XII
Depois de ter cortado todos os braços que se esten-
diam para mim; depois de ter entaipado todas as ja-
nelas e todas as portas; depois
de ter inundado os
fossos com água envenenada; depois de ter edifica-
do minha casa no rochedo dum Não inacessível aos
afagos e ao medo; depois de ter cortado a
língua e
logo a devorar; depois de ter
lançado punhados de
silêncio e monossílabos de desprezo a meus amo-
res; depois de ter esquecido meu nome e o nome da
minha terra natal; depois de me
ter julgado e conde-
nado a perpétua
espera e a solidão perpétua, ouvi
contra as pedras de meu calabouço de silogismos a
investida húmida, terna, insistente, da primavera.
octavio paz
trabalhos do poeta
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