Contar os grãos de areia destas dunas é o meu
ofício actual. Nunca julguei que fossem tão parecidos, na pequenez
imponderável, na cintilação de sal e oiro que me desgasta os olhos. O inventor
de jogos meu amigo veio encontrar-me quase cego. Entre a névoa radiosa da praia
mal o conheci. Falou com a exactidão de sempre:
«O que lhe falta é um microscópio. Arranje-o
depressa, transforme os grãos imperceptíveis em grandes massas orográficas, em
astros, e instale-se num deles. Analise os vales, as montanhas, aproveite a
energia desse fulgor de vidro esmigalhado para enviar à Terra dados científicos
seguros. Escolha depois uma sombra confortável e espere que os astronautas o
acordem».
carlos de oliveira
sião
organização e notas de
al berto, paulo da costa domingos e rui baião
lisboa
1987
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