ao almada negreiros
Maravilhosa plástica das
coisas!
Tudo no seu lugar, as cores e
os olhos
Lá no lugar de cada coisa, a
vê-la
Com seu aspecto natural e
próprio.
(Tudo para cada um, na
variedade
Dos olhos de quem se admite na
paisagem,
Ou como espectador,
Ou como actor,
Ambas as coisas uma, no
concerto
Magnífico do mundo.)
...Sem memória, ou com memória
a sê-la
Nos olhos a olhar completamente
Sem nenhum pensamento
reservado:
- Olhos dados a cada
coisa, ou tida
Cada coisa
p'los olhos que se deram!...
Vaivém de tudo e nada, desse
nada
Profético de tudo - e o tudo
enorme
De cada nada afeiçoado e olhado
À feição de quem olha possuindo
E possuído, na maravilhosa
Cópula grande dos Artistas
todos...
Maravilha de ter-se e ter-se
dado,
Em cada olhar olhado,
E em cada cor e em cada flor
mantido,
Bolindo e vendo
O sonho de se ir tendo
Realizado.
antónio pedro
antologia poética
obras clássicas da literatura
portuguesa séc. xx
edição de fernando matos oliveira
angelus novus, editora
1998
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