Nem sempre se deve
desconfiar das pessoas
graves, aquelas que
caminham com o pescoço inclinado para baixo,
os olhos delas a tocar
pela primeira vez o caminho que os pés confirmarão
depois.
Às vezes elas vêem o céu
do outro lado do caminho que é o que lhes fica por baixo
dos pés e por isso do
outro lado do mundo.
O outro lado do mundo das
pessoas graves parece portanto um sítio longe dos pés
e mais longe ainda das
mãos
que também caem nos dias
em que o ar pode ser mais pesado e os ossos
se enchem de uma
substância morna que não se sabe bem o que é.
Na gravidade dos pés e da
cabeça, e também dos olhos, com que nos são alheias
quando as olhamos de
frente rumo ao lado útil do caminho que escolhemos, essas
pessoas arrastam uma nuvem
prateada que a cada passo larga uma imagem daquilo
que foram ou das pessoas
que amaram.
Essas imagens podem
desaparecer para sempre se forem pisadas quando caem no
chão. A gravidade dos pés
e da cabeça, e também dos olhos, dessas
pessoas, é, por isso, uma
subtil forma de cuidado.
rui
costa
a
nuvem prateada das pessoas graves
quasi
2005
1 comentário:
outra perda imensurável.
ainda lacrimejo quando me lembro dele.
mas o que é que está a acontecer com a nossa Gente imensa e jovem?!...
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