22 maio 2012

fernanda de castro / a ilha da grande solidão (excerto)






(Violetas...
Alguém mandou-me violetas,
e as longas horas de Outono,
de roxas, ficaram pretas...)

Assim, de olhos fechados,
ainda vejo, no tanque, os peixes encarnados,
ainda sinto o perfume dos lilases,
ainda ouço os rapazes:
(e tu, Jardim, também os ouves?)
— «P’ra que servem as flores? Plantem couves».
Mas não plantei,
amei
cada pequena flor
e nenhuma secou,
nem o tempo as murchou,
nem a Dor..

Pequena flor…
Petite fleur.
A trompette do Sidney Bechet
dilacera-me ouvidos
e sentidos.
Magoa-me a estridência
da música obcecante.
Enerva-me a violência
dos sons,
dos desejos incontidos.
Dói-me a culpa,
a inocência
de uns braços estendidos.



fernanda de castro
poezz
almedina
2004



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