Traz o vinho e as flautas, vai chover,
o nosso ofício não é a vitória, irmão,
não apagues a candeia, entre esta noite
e a tua velhice só medeia o tempo,
usa as bandeiras como mantas
e recolhe os nomes sem as suas coisas
que os naufrágios deixam nos areais,
a nossa ocupação é a derrota,
vagueia despojado nas avenidas
como um diabo tentado pela luz,
desenha-te no corpo de uma fêmea
como uma blusa molhada e demora
a tua carroça longe do mercado
enquanto choram as virgens de gesso
porque a nossa tarefa é escrever
os poemas inúteis, irmão.
Mas caia-te o sal sobre as terras,
estabeleça-se a dor à tua porta,
prosperem os traidores na tua ruína,
precedam-te os filhos na morte,
perde o gado e a tua companheira
e supliques piedade a quem te odeia
e reclames amor de quem te teme
e formes no pelotão dos tristes
e revolva a enxaqueca o teu cérebro
e os juízes injustos te persigam
se escreveres um poema desnecessário.
gonzalo sánchez-terán
desvivirse
tradução de manuel rodrigues
colección visor de poesía
madrid
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