a função do amor é fabricar
desconhecimento
(o conhecido não tem desejo; mas
todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas, o
idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto,
os peixes se gabem de pescar
e os homens sejam apanhados pelos
vermes(o amor pode não se
importar
se o tempo troteia, a luz declina,
os limites vergam
nem se maravilhar se um
pensamento pesa como uma estrela
─ -o medo tem morte menor; e
viverá menos quando a morte acabar)
que afortunados são os
amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser
descoberto)
cujo ignorante cada respirar se
atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa
sabedoria teme ver
(que riem e choram)que sonham,
criam e matam
enquanto o todo se move; cada
parte permanece quieta:
e.e. cummings
livrodepoemas
trad. cecília rego pinheiro
assírio & alvim
1999
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