O peso do mundo
é amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
do
descontentamento
o peso,
o peso que carregamos
é amor.
Quem pode negar?
Toca
em sonhos
o corpo,
constrói
em pensamento
um milagre,
angustia-se
na imaginação
até nascer
no humano –
espreita pelo coração
ardendo puramente –
pois o fardo da vida
é amor,
carregamos porém o fogo
com fadiga,
temos pois de descansar
nos braços do amor
enfim,
temos de descansar nos braços
do amor.
Não há descanso
sem amor,
não há sono
sem sonhos
de amor –
loucos ou indiferentes
que sejamos, obcecados
com anjos ou
máquinas,
o derradeiro desejo
é amor
– não pode amargar
não se pode negar,
não se pode conter
se negado:
pesa de mais este peso
– tem de se dar
sem rendimento
como se dá
o pensamento
na solidão
na suprema excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
no escuro,
move-se a mão
para o centro
da carne,
treme a pele
de felicidade
e vem-se a alma
exuberante aos
olhos –
sim, sim,
era isso que eu
queria,
que eu sempre
quis,
eu sempre quis
regressar
ao corpo
onde eu nasci.
San Jose, 1954
allen ginsberg
uivo e outros poemas
trad. margarida vale de gato
relógio d’ água
2014