Onde habite o esquecimento,
Nos vastos jardins sem madrugada;
Onde eu seja somente
Lembrança de uma pedra sepultada entre urtigas
Sobre a qual o vento foge à sua insónia.
Onde o meu nome deixe
O corpo que ele aponta entre os braços dos séculos,
Onde o desejo não exista.
Nessa grande região onde o mar, anjo terrível,
Não esconda como espada
A sua asa em meu peito,
Sorrindo cheio de graça etérea enquanto cresce a dor.
Além onde termine este anseio que exige um dono à sua imagem,
Submetendo a sua vida a outra vida.
Sem mais horizonte que outros olhos frente a frente.
Onde as dores e alegrias não sejam mais que nomes,
Céu e terra nativos em redor de uma lembrança;
Onde ao fim fique livre sem eu mesmo o saber,
Dissolvido em névoa, ausência,
Ausência leve como a carne de uma criança.
Além, além, longe;
Onde habite o esquecimento.
luis cernuda
antologia da poesia espanhola
contemporânea
selecção e tradução de josé bento
assírio & alvim
1985