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11 novembro 2023

henrique risques pereira / saudades

 




 
Para além da muralha de água
há lágrimas
e poemas ciciados ao ouvido
e se diz da enseada sagrada
e do rio que rasga a terra
entre abismos verticais
olhos vítreos de águia ferida.
 
Cada coisa tem um segredo antigo
que a árvore é a floresta
que a gota cintilante é o vasto oceano
e que tu estás em tudo e tudo está em ti
e para sempre guardado em ti.
 
 
 
henrique risques pereira
transparência do tempo
(poesia)
edição de perfecto e. cuadrado
quasi
2003


12 março 2021

henrique risques pereira / recordações

 
 
A paz inalterável do amor gratuito que ninguém quer
a saudade sempre penetrante do amigo morto que ninguém quis
os flagelos para os outros e para sempre com os outros
os nossos irmãos inexplicáveis de perfis irreconhecíveis
a caligrafia escrita no tempo
tudo isto
talvez valha qualquer verdade que te disse
e me esqueci.
 
 
 
henrique risques pereira
transparência do tempo
(poesia)
edição de perfecto e. cuadrado
quasi
2003





26 janeiro 2021

henrique risques pereira / amanhã vamos todos chorar

 
 
Amanhã vamos todos chorar
e muito depressa
porque temos pressa de chegar ao fim depressa.
 
Hoje falamos
Amanhã viveremos
Hoje lutamos
Amanhã descansaremos
Hoje amamos
Amanhã desculparemos.
 
Amanhã é hoje pensado para além de hoje
Amanhã é a manhã que segue à noite
E a noite faz medos
e tristezas
e lembra velhas melodias
como uma mulher escandalosamente vestida
de vermelho cingido.
 
 
 
henrique risques pereira
transparência do tempo
(poesia)
edição de perfecto e. cuadrado
quasi
2003





15 janeiro 2021

henrique risques pereira / envelhecer

 
 
Envelhecer
é estar suspenso
entre dois hemisférios eternos
um a vida outro a morte
 
Tudo de uma mesma esfera
duas passagens
uma curta e a outra imensa
 
Para que serviram as tristezas e alegrias
e o saber e a ignorância
e o ser e o estar para além.
 
 
 
henrique risques pereira
transparência do tempo
(poesia)
edição de perfecto e. cuadrado
quasi
2003




03 agosto 2012

henrique risques pereira / um gato partiu à aventura


  


As palavras de vidro que tu depões em teus seios, para me ofere-
          ceres, raspam estridentes na camada imarcescível dos meus
          olhos;
Caem e eu sonho para espalhar plumas nos espaços;
Trago na mão esquerda, hermética, fechada duramente, as deli-
          cadas linhas epidérmicas,
Leio nesse rendilhado de sensações o roteiro da minha viagem
          livre, o meu voo solitário, que eu inicio saltando dos telhados
          para as janelas;
É na abstracção hipnótica do rosa íris que eu te vejo acompanhar
          a estranha aventura dum albatroz,
e é ao cair da noite que eu aceno longamente os meus braços;
É na harmoniosa vibração azul que eu transmito o Sol vermelho
          do poente e da tristeza,
e, quando as minhas mãos se transformam em pérolas puras, os
          teus olhos gelam para serem os gigantes e a noite;


Livre um gato desliza pela goteira escura da cidade,
livre uma pequena ilha nasce no ponto ignorado do Oceano,
livres as ondas escorregam na superfície marinha,
livres os pássaros e os cavalos na noite da lua encantada,
livre eu chamo-te dos cumes das serras,
livres as ondas os cavalos e os pássaros;


Abandono a terra da ilha para viver nos abismos, nas cidades
          que crescem, nos beijos que enchem o vento,
e oiço a imensa máquina que esmaga o ferro da estrada cons-
          truída, a cortina sedosa dos teus cabelos, eu e tu,
e vejo o cego que avança com os braços levantados para o mundo
          incompreensível,
e liberta os corpos visíveis: os teus lábios, os teus seios, o teu sexo;
e mães batem às janelas e imploram:  LAMA!;

A um canto morre em agonia o primeiro grito;

O gato parte à aventura pelos telhados, pelos vales e pelos Sonhos.




henrique risques pereira
a intervenção surrealista
mário cesariny de vasconcelos
ulisseia
1966