Belo mundo dos pardieiros
Da mina e dos campos
Caras boas para o fogo boas para o frio
Para as recusas para a noite para as injúrias para
[os golpes
Caras boas para tudo
Eis o vazio que vos fixa
Vossa morte vai servir de exemplo
A morte coração derrubado
Fizeram-vos pagar o pão
O céu a terra a água o sono
E a miséria
Da vossa vida
Diziam desejar a boa inteligência
Racionavam os fortes julgavam os loucos
Davam esmola dividiam um soldo ao meio
Saudavam os cadáveres
Cumulavam-se de delicadezas
Insistem exageram não são do nosso mundo
As mulheres as crianças têm o mesmo tesouro
De folhas verdes de Primavera e de leite puro
E de tempo
Nos olhos puros
As mulheres as crianças têm o mesmo tesouro
Nos olhos
Os homens defendem-se como podem
As mulheres as crianças têm as mesmas rosas
[vermelhas
Nos olhos
Cada uma mostra o seu sangue
O medo e a coragem de viver e de morrer
A morte tão difícil e tão fácil
Homens para quem este tesouro foi cantado
Homens por quem se perdeu este tesouro
Homens reais para quem o desespero
Alimenta o fogo devorador da esperança
Abramos juntos o último rebento do futuro
algumas das palavras
trad. antónio ramos rosa e luiza neto jorge
publicações dom quixote
1977