07 março 2024

manuel antónio pina / o braço

 






 
O braço que falta ao mendigo é que o sustenta –
É ele que na sombra mexe os cordelinhos
De milhões misteriosos de dedinhos
Com que o mendigo se coça e se alimenta.

 
                            O cego que toca violino na esqui-
                            na da Rua de Santa Teresa e da Ga-
                            leria de Paris

 
 
Entre o cego e a música é que o braço se coloca,
Tão célere que o cego não entende
Dos braços da música que toca
Qual o que abraça qual o que ele estende.
 
 
 
manuel antónio pina
ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde
erva daninha
1982
 


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