Não acredites: as pessoas que te falam em diálogo
querem o teu mal. Dizem que a compreensão deve
ser «cultivada» - e esperam bem sentados que te estateles ao
comprido
na frente de uma esplanadazinha com vista para o tédio.
(Afasta de ti esse cálice!)
Eles querem o teu sangue mas depois não sabem o que fazer com
ele,
não fazem nada com ele,
não o bebem, não o vendem, não o poluem com o teu
olhar desvairado ante o corpo aberto dela, do seu nexo tão
carente de ti.
Que a planta tem que ser regada para crescer, ah por favor –
não compres asas novas para a eterna toupeira.
A coisa verde estende as mãos para alcançar a água –
e depois cresce para o sol, incha,
porque ela usa-o e é usada por ele, e usar e ser usado é que é
o meu desejo cheio, a amizade toda e – foi assim connosco mas
já
não é –
a essência do amor (essa magra
celulite que tu deves alcançar pelo
diálogo
na demonstração diária do respeito mútuo e sabiamente partilhado!)
Ainda pensas que te darei uma definição do amor?
Dou-te apenas o que não pode ser aceite:
o meu ar luminoso e irascível!
– e nenhum deus invoco ou minimizo.
Faz o que quiseres, ou o que puderes, com o que eu te dou.
É para isso, é por isso que (o café está bom)
(e) eu gosto de ti.
rui costa
à solta no ringue
mike tyson para principiantes
antologia poética
assírio & alvim
2017