Mostrar mensagens com a etiqueta john freeman. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta john freeman. Mostrar todas as mensagens

21 abril 2025

john freeman / do amor



 

 
Se o vento se fizesse rogado
talvez pudéssemos ficar e ouvir
como se a noite pausasse a sua cortina
azul e o trigo se curvasse sem dissipar
a esperança no que se passa no escuro,
e só por acaso se passa.
 
 
john freeman
mapas
trad. miguel cardoso
tinta da china
2019
 




 

27 setembro 2021

john freeman / correio

 
 
Naquele tempo escrevíamos muito
um ao outro, longas cartas
enredadas que cruzavam um país, onde
eu lhe perguntava se sabia da minha gratidão;
as suas respostas tão generosas
que só agora me apercebo
que não era gratidão a minha
gratidão, mas novo pedido.
 
 

john freeman
mapas
trad. miguel cardoso
tinta da china
2019







15 setembro 2020

john freeman / da generosidade



Ela dava tão facilmente
que não percebíamos que aceitar
era treino
para retribuir.
Quando abrias uma porta
ela passava primeiro, pois
se a maré vai, a maré torna.



john freeman
mapas
trad. miguel cardoso
tinta da china
2019










18 maio 2020

john freeman / o rapaz debaixo do carro



Naquela noite em Damasco
a sua função era dispor
o chá e o bolo
e um raminho de menta
num tabuleiro de prata
e percorrer
o caminho calcetado da entrada
até ao rapaz a quem pagavam
para dormir debaixo do carro.
Ele nunca chegou
a dizer o seu nome, que
aspecto teria,
ou se, ao chegar
à beira dele,
enroscado,
olhos pretos luzidios,
o teria surpreendido
a cantarolar sozinho
logo antes de o estrondo do metal
o calar para sempre.



john freeman
mapas
trad. miguel cardoso
tinta da china
2019







28 fevereiro 2020

john freeman / encobrimento



Se
pudéssemos
traçar um atlas
da dor, a maior
porção da terra
seria terra
incognita.



john freeman
mapas
trad. miguel cardoso
tinta da china
2019