Viver é partilhar odeio a solidão
A grilheta da morte quer-me reter
ainda
Já não beijo ninguém como beijava
dantes
O pão era sinal de ser feliz
O bom pão que nos torna mais
quente o nosso beijo
Como abrigo possível só há o
mundo inteiro
P’ra mim viver é hoje responder
aos enigmas
É renegar a dor que é cega de
nascença
E sempre em pura perda estrela
sem qualquer brilho
Viver perder-se para reencontrar
os homens
Que a palidez do rio encubra o do
arroio
Que olhos de maravilha vejam tudo
em seu lugar
A miséria acabada e os olhares
lavados
Uma ordem crescendo do grão à
flor à árvore
Andaimes vivos a sustentar o
mundo
A criança a renascer em cada
homem e rindo.
paul éluard
poemas políticos
trad. carlos grifo
editorial presença
1971